sábado, 9 de julho de 2016

COLUNISTA VIP:



Cego de paixão (Ficção)

Nando da Costa Lima
Cleonildo saiu do matinê do Cine Ritz pisando nas nuvens, não pelo filme, mas pela presença da viúva Julinda, sua paixão! Entrou no bar Lindoya, chupou uns dez picolés de coco só pra aliviar a tensão e não beber, quem mais sabia que não podia beber era ele, se bebesse ia acabar atacando a viúva que não lhe dava a mínima. Não dava bola nem pros fazendeiros, quanto mais pra ele que nem emprego tinha, vivia de biscate! Agora então que o circo foi embora, tava sem fazer nada. Mas nesses casos o cão atenta, a paixão e o tesão pela viúva levaram o infeliz ao pé do balcão, foi bater no Bar Pinguim. Lá ele tomou todas a que tinha direito arquitetando um jeito de traçar a viúva na marra, até a touca de meia pra colocar no rosto já tava no bolso, ia realizar seu desejo de qualquer jeito. Sabia que estupro é crime, mas a tara falou mais alto. E foi naquela noite de sexta-feira sem lua que Cleonildo, sabedor dos caminhos percorridos pela viúva e movido pela paixão, pôs seu hediondo plano em ação. Tava mais bêbado que um gambá na hora que pegou a viúva à força, tapou a bocacom a toalha roubada do bar e jogou duro, a cachaça parece que deu força ao pervertido, deu mais de três, deixou a viúva quase desacordada. Correu pra casa já arrependido da brutalidade que cometeu com seu amor de tantas fantasias. Não conseguiu dormir, tinha que procurar um amigo pra desabafar, só confessando pra diminuir o peso de tanto barbaridade. Ajoelhou no confessionário e não deu tempo pro padre nem respirar, foi logo abrindo o jogo: “É seu padre, tô com vergonha até de começar, mas é melhor contar... O senhor sabe de minha paixão pela viúva Julinda, né? Pois ontem eu não resisti, foi um gesto tresloucado, eu estava bêbado e parti pra ignorância. Fui até grosseiro, ela estava de vestido longo, devia tá indo pra festa de gala no salão do Clube Social, mas minha vontade era tanta que foi de qualquer jeito, não respeitei nem o luto. Joguei duro seu padre... tô arrependido mas não posso negar que tô satisfeito! E pelo gemido e o assanhamento tava gostando, só não revelei quem era pra minha paixão com medo dela não me admitir por ser pobre e tampinha. Vou sair daqui direto pra delegacia, eu sei que o que fiz merece cadeia, é coisa de gente safada, vou me entregar pro delegado”.

       Quando ele acabou de falar e baixou a cabeça esperando um sermão do vigário e a penitência, o padre pulou de dentro do confessionário, todo vermelho e gritando pro sacristão “Socorro, chama a polícia, achei o pervertido que me atacou ontem a noite perto do Jardim das Borboletas, socorro. Não foi o tarado da Normal não! Foi o anão do circo de Xiribita... socorro”!
       Este caso acabou sendo abafado, ia pegar mal se caísse na boca do povo... E Cleonildo “pé de mesa” nunca mais foi o mesmo depois do ocorrido! Se picou pra São Paulo. Foi Paixão!.. E ninguém da cidade entendeu quando a viúva Julinda, uma santa, foi excomungada de uma hora pra outra”.


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